quarta-feira, 30 de maio de 2007

DICA DE DOCUMENTÁRIO: ILHA DAS FLORES


“Liberdade é uma palavra
que o sonho humano alimentaque não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”
(texto final do filme Ilha das Flores)

Documentário dirigido por Jorge Furtado no ano de 1989 com duração de 13 minutos, o qual foi alvo de vários prêmios como: Prêmio Crítica e Público no Festival de Clermont-Ferrand 1991 Melhor Curta no Festival de Gramado 1989 Melhor Edição no Festival de Gramado 1989 Melhor Roteiro no Festival de Gramado 1989 Prêmio da Crítica no Festival de Gramado 1989 Prêmio do Público na Competição "No Budget" no Festival de Hamburgo. A opção pelo filme documentário é colocada desde o início: “Este não é um filme de ficção. Existe um lugar chamado: Ilha das Flores. Deus não existe” (esta é a frase inicial colocada na abertura, antes do título do filme.) No filme, Jorge Furtado inaugura uma nova estrutura de narrativa no cinema brasileiro contemporâneo: a narrativa em blocos tem uma abordagem pseudocientífica, cheia de classificações, definições, repetições e estatísticas, mas apresentada de maneira irônica e irreverente. É como se o cineasta quisesse nos dar uma aula repetindo várias vezes as frases para podermos decorar o assunto. Isto em termos de documentário é inovador, porque difere dos documentários tradicionais que mostram uma série de entrevistas para esclarecer o assunto e buscam uma não-interferência na realidade. Por outro lado, assemelha-se a um filme didático embora fuja dos didáticos tradicionais, porque insere a crítica e a ironia. O filme define com palavras, gráficos, desenhos e colagens os termos: dia, lucro, dinheiro, supermercado, perfume, mamífero, animal, vegetal, lixo, ilha, flores, terreno, orgânico e inorgânico. Esta estrutura de montagem faz com que as palavras e imagens repetidas nos levem a uma criação de sentido e uma conclusão provocada pelo filme. E é este o grande papel do cinema: através do filme, nós, espectadores, somos confrontados com a realidade e podemos nos posicionar sobre ela. O filme Ilha das Flores nos ajuda a pensar o Brasil e a realidade de todos estes habitantes sem dono, sem dinheiro e livres do nosso planeta.
Resumindo: Um tomate é plantado, colhido, transportado e vendido num supermercado, mas apodrece e acaba no lixo. Acaba? Não. ILHA DAS FLORES segue-o até seu verdadeiro final, entre animais, lixo, mulheres e crianças. E então fica clara a diferença que existe entre tomates, porcos e seres humanosNo filme podemos ouvir as seguintes frases:Flores: “são os órgãos reprodutores das plantas geralmente odoríferas e de cores vivas”. Há poucas flores na Ilha das Flores. Há, no entanto, muito lixo. Há também muitos porcos na ilha. Aquilo que não foi considerado alimento para os porcos é dado para as crianças na Ilha das Flores. O que coloca os seres humanos da Ilha das Flores depois dos porcos na prioridade dos alimentos é o fato de não terem dinheiro, nem dono. O que diferencia o ser humano dos outros animais é ter o telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor e... SER LIVRE. Por que o homem, um ser livre e racional, comete todo tipo de violência que vemos se repetir ao longo da história da humanidade? Onde estão as causas e as respostas?

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